Por um currículo consistente
Entre
tantas possibilidades, a escola deve optar por ensinar o que leva o aluno a
desenvolver habilidades como o senso crítico e a ética
Não é de hoje que os educadores
de diversos países se perguntam o que as crianças e os jovens devem aprender em
sala de aula. Antigamente não havia dúvida: era preciso transmitir aos alunos
os saberes que a humanidade acumulou nos últimos 10 mil anos em Ciências,
Matemática, Literatura, Arte e as demais áreas do conhecimento. Sim, era uma
grande pretensão, mas ninguém duvidava de que esse era o papel da escola.
Na contemporaneidade, essas
certezas ruíram. Novas necessidades de aprendizagem foram surgindo ao mesmo
tempo em que outras demandas sociais e culturais apareciam. Por uma série de
motivos, a escola foi aos poucos tomando para si a responsabilidade pelo ensino
de tudo o que uma pessoa precisa aprender durante a sua formação. Como bem
compara o educador português António Nóvoa, muita gente toma essa instituição
como um pote, em que são colocadas diversas coisas: além das que já estão lá -
as diversas disciplinas -, se juntam também aulas de cidadania e meio ambiente,
atitudes para prevenir a aids, a violência sexual e os acidentes de trânsito,
noções de higiene pessoal e de saúde pública etc., etc., etc.
Nóvoa defende a formação de um currículo consistente,
ele afirma que não se pode pretender que a sala de aula resolva todos os
problemas e que é preciso dar "à escola o que é da escola e à sociedade o
que é da sociedade".
Outro grande educador, o nosso
Paulo Freire (1921-1997), costumava ressaltar em discursos e textos que educar
não é aplicar conteúdos na cabeça das crianças, como se faz depósitos em contas
bancárias - só que, nesse caso, seriam depositados trocados de conhecimentos.
Freire e Nóvoa usam essas metáforas para superar a
ideia de que o professor é o detentor de saberes contidos em matérias fechadas,
e o aluno, o dono de uma cabeça oca e enorme para poder acomodar tudo dentro
dela. Agora sabemos - depois de todas as contribuições de Jea- Piaget
(1896-1980), Lev Vygotsky (1895-1934) e outros pesquisadores - que o
conhecimento se forma depois de um longo processo de trocas, assimilações,
adaptações elaborações, influenciado por todos os aspectos humanos (valores,
culturas, condições materiais etc.).
Sabendo disso, fica fácil se
convencer de que a escola e a cabeça do aluno não são potes ou contas
bancárias. Ela deve, portanto, pinçar, do leque de conteúdos, aqueles que
trarão a maior possibilidade de a criança aprender e formar habilidades aliadas
à cidadania, ao senso crítico e ao sentido de ética e estética. Cabe à escola
optar por um programa que contemple as necessidades dos estudantes e as
características da comunidade em que eles vivem, afinando-o ainda com as
diretrizes dos currículos nacionais.
Com esses parâmetros, é possível
construir, sim, um projeto político pedagógico (PPP) para cada unidade de
ensino, mas que não fique circunscrito a ela. Ele deve se refletir nos planos
de Educação do município e da nação, já que nasceu da cultura atual, viva,
produzida no seio da escola e de seus arredores, aliando-se politicamente à
formação de uma nação democrática e republicana. Dessa forma, a escola nunca
será uma oficina de formar agentes para o mercado flutuante de trabalho, mas uma
instituição de onde saem cidadãos que se habilitam a trabalhar e participar da
cultura e dos destinos da comunidade e do país.
REFERÊNCIAS
http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/curriculo-consistente-568009.shtml
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